A vida acadêmica engessou minha escrita.

A vida acadêmica me engessou minha escrita – e minha criatividade. Conquanto meus orientadores tenham sido figuras que sempre estimularam minha mente e deram liberdade suficiente para que eu pudesse 'viajar' nas especulações, conjecturas e tudo mais, por fim, há um modelo ao qual você precisa corresponder. A comunidade, seus pares, tendem a certa pasteurização semântica e, principalmente, estilística; e se, mais que a mensagem que você traga, sua forma literária não encontre naquelas uma correspondência substancial, você será chamado à revisão, à reescrita, à reformulação – quando não rechaçado.

Ora, ao longo dos anos e anos de leitura, nesta mesma vida acadêmica, entramos em contato com autores altamente prolixos e herméticos (não raro redundantes, contraditórios, solipsistas etc.) e que ocupam lugar cativo no panteão intelectual da Modernidade. A esta altura, que duas coisas fiquem claras: primeiramente, é possível, sim, que a produção de um mestrando e doutorando não traga nada mais além de uma estilo expositivo e argumentativo peculiar, dando razões para qualquer atitude de desconfiança e desprezo dos seus pares. Aliás, que isto aconteça é bastante provável.

Em segundo lugar, acadêmicos prolixos e herméticos podem, sim, trazer algo de bastante substancial e valioso em sua área de conhecimento. E o mais comum é que assim o seja, afinal, o escrutínio é largo e pesado.

Bom, voltemos ao meu engessamento.

Passei quatro anos na graduação, dois no mestrado e cinco no doutorado. Ao longo de todos esses anos, me encantei com muitos estilos de escrita e ao escrever, acredito que tenha procurado (não é isso que a gente faz?) incorporar um pouco de cada em meu estilo. O que colhi daqueles que liam – professores e colegas – meus textos foram muitos elogios. 'Poxa, você escreve muito bem!'. E eu acreditei.

Hoje, o que posso dizer é que: o modo como aprendi a escrever e a apresentar meus argumentos – que, no final das contas – teria que atender a uma fórmula metodológica dificulta enormemente a expressão das minhas reflexões. Olho para trás e vejo todos aqueles elogios com imensa desconfiança. Afinal, escrever muito bem me parece agora replicar muito bem um modelo... E, daí, já não tenho tanta segurança para escrever assim.

Essa insegurança, acredito, tem me impedido de escrever há uns dez anos. Inúmeras circunstâncias não-acadêmicas, claro, concorreram para esta paralisia. Mas, lá no fundo, não tenho dúvidas. Foi a vida acadêmica que engessou minha escrita.